Texto elaborado por:
Rodrigo Freitas Fontes e Marvyn de Santana do Sacramento
A Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome metabólica não transmissível e caracterizada pela elevação dos valores de glicose no sangue. Estima-se que no Brasil 13 milhões de brasileiros estão com DM e que no planeta, esse número é de 463 milhões de pessoas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a elevação da glicemia é o terceiro maior fator responsável por mortalidade, ficando atrás somente do aumento da pressão arterial e tabagismo. Em 2015, estimou-se que quatro milhões de pessoas morreram por causa da DM, sendo responsável por 10,7% da mortalidade mundial para todas as causas. Isso ocorre devido às complicações dessa síndrome, que podem causar doença cardiovascular (IM), cerebrovascular (AVE) e renal (DRC).
A DM pode ser classificada como uma doença autoimune (DM tipo I) ou adquirida (DM tipo II, Gestacional, entre outras), sendo a DM tipo II com maior número de casos, entre 90 a 95% do total. Devido às diferenças da fisiopatologia de cada tipo, é mais comum que a DM tipo I ocorra nos primeiros anos de vida do paciente, enquanto que a DM tipo II desenvolve-se ao longo da vida até o envelhecimento, onde é possível observar um aumento exponencial de casos.
Diagnóstico da Diabetes Mellitus
Para o Diagnóstico da DM existem valores de referência de exames específicos que podem avaliar as condições normais, pré-diabéticas e a própria doença já estabelecida. Os testes abaixo podem informar com diferentes protocolos, os valores de glicemia em jejum de 8 horas, duas horas após sobrecarga oral de glicose e níveis glicêmicos referentes aos três ou quatro últimos meses, respectivamente:
· Glicemia em Jejum: normal (< 100 mg/dL); Pré-diabetes (≥ 100 e < 126 mg/dL); Diabetes estabelecido (≥ 126 mg/dL).
· Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG): normal (< 140 mg/dL); Pré-diabetes (≥ 140 e < 200 mg/dL); Diabetes estabelecido (≥ 200 mg/dL).
· Hemoglobina glicada (HbA1c): normal (< 5,7); Pré-diabetes (≥ 5,7 e < 6,5); diabetes estabelecido (≥ 6,5%).
Para avaliar a relação entre a produção da glicose pelo fígado e produção de insulina nas células beta do pâncreas, existem modelos matemáticos. O modelo de homeostase da resistência à insulina (HOMA-IR) em jejum e do funcionamento das células beta (HOMA-beta), podem ser quantificados pelas equações:
HOMA-IR = [(glicemia em mmol/L) x (insulina em µU/mL)] / 22,5
HOMA-beta = 20 x Insulina (ui/ml) ÷ (Glicemia em mmol/L - 3,5)
O tratamento mais convencional da DM é através do uso de fármacos para conter os avanços da doença e aprimorar o controle glicêmico. Tais como, antidiabético oral (comum na DM tipo II) e uso de insulina (necessário na DM tipo I). Aderir aos hábitos de vida mais saudáveis, como alimentação equilibrada e a prática regular de exercício físico, podem contribuir para o manejo da doença. Abaixo vamos destrinchar um pouco mais sobre como o exercício físico pode beneficiar indivíduos com DM.
Efeitos do Exercício Físico na Diabetes Mellitus
O papel do exercício físico é semelhante ao da Insulina, ou seja, aumenta a capacidade de captação de glicose pela célula muscular. As contrações musculares estimulam a translocação de canais proteicos de glicose (GLUT) do interior da célula para a membrana da célula. Ao se dispor entre a bicamada lipídica da membrana plasmática da célula muscular (sarcolema) os GLUT 4 possibilitam a penetração da glicose por difusão simples para o interior da célula. Esse processo ocorre durante o exercício (Efeito Agudo) e permanece aumentado após o exercício.
Neste sentido, o exercício físico é capaz também de melhorar a captação de glicose de forma crônica. A prática regular de exercício físico promove melhora da sensibilidade dos receptores de insulina do sarcolema além de diminuir a inflamação subclínica. Esses dois fatores em conjunto aumentam a atividade da insulina e consequentemente favorecem o influxo de glicose de forma mais efetiva para o interior da célula muscular, que é a maior consumidora de glicose do organismo.
Esse processo favorece o controle dos valores glicêmicos de forma tão efetiva quanto os fármacos muitas vezes abrindo a possibilidade dea diminuição ou até mesmo retirada completa dos fármacos. Nosso grupo de pesquisa recentemente publicou um relato de caso apontando essa possibilidade (Ler artigo). Portanto, a prescrição correta tanto do exercício aeróbico como do resistido, pode contribuir para a melhora do controle glicêmico, qualidade de vida e aumento de sobrevida para a DM, como vem sendo demonstrado na literatura científica. O que torna a combinação desta prescrição com o uso dos fármacos um potente tratamento, podendo até diminuir a utilização medicamentosa com a melhora progressiva do quadro e tornando a vida do paciente mais confortável e menos onerosa.
Contudo, esses efeitos não provêm de qualquer exercício. É necessário um trabalho personalizado e supervisionado prescrito por profissionais com excelente formação teórica e prática para que esses benefícios sejam alcançados. Portanto, se você é um estudante ou um profissional de educação física ou fisioterapia que deseja oferecer a seus clientes um trabalho diferenciado procure, uma formação extracurricular de qualidade. Se você é uma pessoa que convive com familiares ou amigos com DM, informe a eles sobre a Reabilitação Cardiovascular e Metabólica, pois, lhes abrirá uma nova possibilidade de tratamento com excelente custo-benefício.
Referências:
American Diabetes Association. 5. Lifestyle Management: Standards of Medical Care in Diabetes-2019. Diabetes Care. 2019
Colberg SR, et al. Physical Activity/Exercise and Diabetes: A Position Statement of the American Diabetes Association. Diabetes Care. 2016
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. 2019-2020
Hangping, Z. et al. The impact on glycemic control through progressive resistance training with bioDensity TM in Chinese elderly patients with type 2 diabetes: The PReTTy2 (Progressive Resistance Training in Type 2 Diabetes) Trial. Diabetes Research and clinical practice. 2019
Rehman, S.S.U. Effects of supervised structured aerobic exercise training program on fasting blood glucose level, plasma insulin level, glycemic control, and insulin resistance in type 2 diabetes mellitus. Pakistan Journal of Medical sciences. 2017
Teo, S.Y.M. et al. The Effect of Exercise Timing on Glycemic Control: A Randomized Clinical Trial. Medicine and Science in Sports and exercise. 2020
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